Desigualdade racial na educação brasileira: um Guia completo para entender e combater essa realidade
Reunimos os principais conteúdos do Observatório de Educação sobre o tema para explicar o que é essa desigualdade e a importância da educação para combatê-la.
As principais causas da evasão escolar e como evitar
A evasão escolar acontece quando o aluno deixa de frequentar as aulas, caracterizando desta forma o abandono da escola durante o ano letivo. Existem muitos desafios para as instituições de ensino no Brasil e a evasão escolar é um dos principais deles.
As causas da evasão escolar são variadas, podemos citar algumas como as condições socioeconômicas, culturais, geográficas e também questões referentes ao plano didático e pedagógico e a baixa qualidade de ensino.
Motivos para a evasão escolar
Consequências do abandono escolar
Dona Jacira está muito contente porque hoje é o dia de sua formatura na turma de alfabetização do Centro Comunitário. Finalmente aprendeu a ler e escrever. Quando tinha 7 anos, o pai não a deixou ir à escola, disse que isso só servia pra escrever cartinhas para namorados. Ela precisava ajudar a mãe na cozinha da fazenda onde trabalhavam e em 1950, o pai dizia que pretos e pobres não precisam de escola. Porém, as coisas mudaram e dona Jacira precisou morar na cidade, onde leitura e escrita eram muito importantes e ela dependia de outras pessoas para fazer coisas muito simples, como tomar um ônibus. Agora, mesmo idosa, seria mais independente do que nunca.
Analisando as mudanças que ocorreram na sociedade brasileira a partir da década de 1950, explique as razões pelas quais crianças abandonavam a escola em décadas anteriores e por que questões que envolvem as desigualdades de gênero e étnico-raciais, como o fato de dona Jacira ser mulher, negra e pobre, podem ter sido motivações para a sua saída da escola.
Dona Jacira tem muito o que comemorar quando se trata de vitórias e conquistas com educação e elevo cultural. Dona Jacira enfrentou muitos problemas culturais alguns no seio da própria família outros na sociedade que foram implacáveis contra toda uma geração. Antigamente bastava que o indivíduo soubesse ler o próprio nome que já era considerado alfabetizado e apto para votação eleitoral. Do ponto de vista histórico são muitos os preconceitos e desigualdade social, econômico e cultural. Infelizmente é uma realidade no Brasil, ficou mais visível neste período pós guerra e recessão, pois, se trata de um período de muita dificuldade social, cultural e histórico, pois historicamente não podemos ignorar que a 2ª Guerra Mundial 1945 agravou e potencializou ainda mais as dificuldades para anos subsequentes inclusive nas décadas 1950 em diante. Pessoas que tinham suas fontes de renda voltadas para o campo “a roça”, ou quem morava na cidade o país passando por adaptações frente às mudanças com a industrialização obrigava o povo a ser operários trabalhar em firmas sem condições mínimas de segurança, saúde (salubridade), isso quem ainda conseguisse encaixe no mercado de trabalho. Mulheres eram impedidas de ter atividade profissional sem ter renda e acabavam por depender dos maridos. Crianças eram forçadas a trabalhar desde muito cedo quando meninos eram forçados a trabalhar na roça para compor renda pra família, quando meninas eram forçadas a cuidar dos irmãos e fazer comida. Crianças trabalhavam e sofriam cobrança de adultos. Divergências sociais e educacionais eram ainda mais fortes e acentuadas pois bastava o indivíduo nascer pobre já seria induzido a trabalhar desde criança, se esse indivíduo fosse mulher e negro sofreria ainda maiores privações e preconceitos ao ponto de muitas vezes serem excluídos da força de trabalho além de serem depreciados como inúteis e improdutivos. Descriminação e preconceitos por causa de sua raça, sua classe e sua cor.
Muitas Crianças com idade escolar quando ingressavam nas escolas não duravam muito tempo eram retiradas da chance de estudar e evoluir culturalmente com o argumento de trabalhar e ajudar a compor a renda para por comida na mesa dos adultos e demais crianças.
Os ex-alunos que abandonam a escola passavam a ter baixa estima e cada vez mais acentuava a pobreza e restringia chances de qualificação profissional.
O mercado de trabalho cada vez mais difícil e os operários sem mão de obra especializada com salários bem defasados e barateadas . Isso acaba por gerar um sentimento de desmotivação, aumentando ainda mais a desigualdade no Brasil. Haviam outros motivos também que contribuíam para Evasão Escolar lembrando alguns deles devo destacar alguns como:
escolas distante das casas, transporte escolar precário ou caminhões adaptados como os “pau de araras” que eram caminhões de carga adaptados para aglomerar pessoas como gados.Faltava tempo, consciência e disposição para os adultos levar alunos até a escola. Também a escola não despertava interesse e curiosidade das crianças que já sofriam em casa e ainda sofriam nos transportes. A qualidade do ensino era baixa, doenças, dificuldade do aluno para se concentrar esquecendo dos problemas, só pensavam que precisavam ajudar os pais em casa ou no trabalho, para comer todos tinham que trabalhar, e muitos sofriam proibição dos pais de ir à escola…
As meninas eram obrigadas a ajudar no trabalho doméstico como cozinhar, educar e cuidar dos irmãos mais novos, tarefas essa que era incumbência dos pais. Já os meninos naquela época, eram levados logo com pouca idade ao trabalho braçal na roça com esforços que até para os adultos já era muito pesado.
Para piorar a situação, culturalmente, existia a ignorância dos pais com relação à educação que alguns tinham a escola como inimiga da renda familiar.– nesse caso, a ignorância era representada pelo fato de não saber o quanto a educação poderia transformar a vida dos filhos. Desse modo, mesmo que os filhos quisessem estudar, muitos pais não deixavam eles irem até a escola.
Existem diversos motivos que contribuem para a evasão escolar, sendo que a ocorrência da evasão frequentemente está presente nos anos iniciais do ensino fundamental até o ensino médio.
Os principais motivos que contribuem para a evasão escolar são: escola distante de casa, falta de transporte escolar, não ter um adulto que leve o aluno até a escola, falta de interesse, qualidade do ensino, doenças, dificuldade do aluno, ajudar os pais em casa ou no trabalho, necessidade de trabalhar, falta de interesse e proibição dos pais de ir à escola… É importante salientar que, o ensino fundamental é obrigatório para as crianças e adolescentes de 6 a 14 anos, sendo responsabilidade das famílias e do Estado garantir à eles o acesso a educação.
Os estudantes que abandonam a escola costumam ter baixa estima, o que acaba por dificultar as suas relações sociais e profissionais. Entrar no mercado de trabalho se torna mais difícil e a qualidade dos serviços prestados é nivelada por baixo, tendo em contrapartida uma remuneração mais baixa.
Isso acaba por gerar um sentimento de desmotivação, consolidando ainda mais a desigualdade no Brasil.
As soluções para combater a evasão escolar
É preciso que os gestores, coordenadores e professores se reúnam e avaliem os alunos, tentando desta forma detectar se há dentro do corpo discente estudantes propensos a essa situação. Esse é um dever da escola.LEIA MAIS EM: Dicas e estratégias para diminuir a evasão escolar
Um bom sistema de gestão escolar permite que relatórios de acompanhamento e dados comparativos de desempenho entre alunos e turmas, faltas e outras informações, ajuda a identificar de forma fácil e objetiva indicativos de que o aluno tem a propensão à evasão escolar, permitindo mais efetividade na ação de combate.
Detectar o problema é o primeiro passo para buscar formas de resolvê-lo. A verdade é que todos precisam de incentivo, e não só, mas deve ser dada atenção maior aos que já apresentam as características que levam à evasão escolar.
Detectado o problema, é preciso avaliar a forma de agir: recorrer à família para buscar uma solução conjunta, por exemplo, afinal, nem sempre a ausência dos filhos na escola é conhecida pelos pais.
Num segundo momento, quando os esforços da escola com a família não são suficientes, é hora do Conselho Tutelar ou o Ministério Público serem acionados.
Atividade I
Dona Jacira está muito contente porque hoje é o dia de sua formatura na
turma de alfabetização do Centro Comunitário. Finalmente aprendeu a ler
e escrever. Quando tinha 7 anos, o pai não a deixou ir à escola, disse
que isso só servia pra escrever cartinhas para namorados. Ela precisava
ajudar a mãe na cozinha da fazenda onde trabalhavam e em 1950, o pai
dizia que pretos e pobres não precisam de escola. Porém, as coisas
mudaram e dona Jacira precisou morar na cidade, onde leitura e escrita
eram muito importantes e ela dependia de outras pessoas para fazer
coisas muito simples, como tomar um ônibus. Agora, mesmo idosa, seria
mais independente do que nunca.
Analisando as mudanças que ocorreram na sociedade brasileira a partir da
década de 1950, explique as razões pelas quais crianças abandonavam a
escola em décadas anteriores e por que questões que envolvem as
desigualdades de gênero e étnico-raciais, como o fato de dona Jacira ser
mulher, negra e pobre, podem ter sido motivações para a sua saída da
escola.
|onar o ensino em decorrência de qualquer motivo. Esse problema
social que, infelizmente, é comum no Brasil, afeta principalmente os
alunos do Ensino Médio.
Evasão escolar
Evasão escolar é o que ocorre quando um aluno deixa de frequentar a
escola e fica caracterizado o abandono escolar, e historicamente é um
dos tópicos que faz parte dos debates e análises sobre a educação
pública. Vários fatores podem ocasionar a evasão escolar.
Qual o conceito de evasão escolar?
Quando se trata de evasão escolar, entende-se a fuga ou abandono da
escola em função da realização de outra atividade. A diferença entre
evasão e abandono escolar foi utilizada pelo Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira/Inep (1998).
Quais as causas da evasão escolar?
Os principais motivos que contribuem para a evasão escolar são: escola
distante de casa, falta de transporte escolar, não ter um adulto que
leve o aluno até a escola, falta de interesse, qualidade do ensino,
doenças, dificuldade do aluno, ajudar os pais em casa ou no trabalho,
necessidade de trabalhar, falta de
O que fazer para acabar com a evasão escolar?
Para evitar a evasão escolar, a solução é investir em tecnologia. Um bom
exemplo é usar jogos e aplicativos que ofereçam uma maior interação do
aluno com a escola, estimulando o aumento do interesse do aluno pelo
ambiente escolar. A Agenda Digital também pode ajudar a evitar a evasão
escolar.
Qual o índice de evasão escolar no Brasil?
Uma pesquisa encomendada pelo banco digital C6 Bank, realizada pelo
Instituto Datafolha, aponta que cerca de 4 milhões de estudantes
brasileiros, com idade entre 6 e 34 anos, abandonaram os estudos em
2020, o que representa uma taxa de 8,4% de evasão escolar.
Qual o papel da escola sobre evasão escolar?
O papel da escola no combate à evasão escolar está justamente em
acompanhar a frequência e o engajamento dos alunos. Esse acompanhamento
permite que alunos que vivem em condições de risco ou de violência
possam ser identificados e encaminhados a órgãos competentes
As principais causas da evasão escolar e como evitar
A evasão escolar acontece quando o aluno deixa de frequentar as aulas,
caracterizando desta forma o abandono da escola durante o ano letivo.
Existem muitos desafios para as instituições de ensino no Brasil e a
evasão escolar é um dos principais deles.
As causas da evasão escolar são variadas, podemos citar algumas como as
condições socioeconômicas, culturais, geográficas e também questões
referentes ao plano didático e pedagógico e a baixa qualidade de ensino.
Motivos para a evasão escolar
Existem diversos motivos que contribuem para a evasão escolar, sendo que
a ocorrência da evasão frequentemente está presente nos anos iniciais do
ensino fundamental até o ensino médio.
Os principais motivos que contribuem para a evasão escolar são: escola
distante de casa, falta de transporte escolar, não ter um adulto que
leve o aluno até a escola, falta de interesse, qualidade do ensino,
doenças, dificuldade do aluno, ajudar os pais em casa ou no trabalho,
necessidade de trabalhar, falta de interesse e proibição dos pais de ir
à escola… É importante salientar que, o ensino fundamental é obrigatório
para as crianças e adolescentes de 6 a 14 anos, sendo responsabilidade
das famílias e do Estado garantir à eles o acesso a educação.
Consequências do abandono escolar
Os estudantes que abandonam a escola costumam ter baixa estima, o que
acaba por dificultar as suas relações sociais e profissionais. Entrar no
mercado de trabalho se torna mais difícil e a qualidade dos serviços
prestados é nivelada por baixo, tendo em contrapartida uma remuneração
mais baixa.
Isso acaba por gerar um sentimento de desmotivação, consolidando ainda
mais a desigualdade no Brasil.
As soluções para combater a evasão escolar
É preciso que os gestores, coordenadores e professores se reúnam e
avaliem os alunos, tentando desta forma detectar se há dentro do corpo
discente estudantes propensos a essa situação. Esse é um dever da
escola.
Um bom sistema de gestão escolar permite que relatórios de
acompanhamento e dados comparativos de desempenho entre alunos e turmas,
faltas e outras informações, ajuda a identificar de forma fácil e
objetiva indicativos de que o aluno tem a propensão à evasão escolar,
permitindo mais efetividade na ação de combate.
Detectar o problema é o primeiro passo para buscar formas de resolvê-lo.
A verdade é que todos precisam de incentivo, e não só, mas deve ser dada
atenção maior aos que já apresentam as características que levam à
evasão escolar.
Detectado o problema, é preciso avaliar a forma de agir: recorrer à
família para buscar uma solução conjunta, por exemplo, afinal, nem
sempre a ausência dos filhos na escola é conhecida pelos pais.
Num segundo momento, quando os esforços da escola com a família não são
suficientes, é hora do Conselho Tutelar ou o Ministério Público serem
acionados.
Dicas e estratégias para diminuir a evasão escolar
A evasão escolar tem uma ligação mais forte com a desmotivação do aluno
do que a necessidade de conciliar trabalho com estudo. As estratégias
para diminuição da evasão escolar devem ser pauta corrente dentro da
escola.
Ao contrário do que comumente se é avaliado, a maioria daqueles que
desistem da escola não o fazem por conta do trabalho, mas porque não se
sente motivados pela própria escola.
Segundo pesquisa da Fundação Getúlio Vargas em 2009, cerca de 40% dos
alunos que abandonam o Ensino Médio o fazem por falta de interesse,
enquanto 27% o fazem pela impossibilidade de conciliar estudos e
trabalho.
Para combater esse quadro e fazer com que os alunos permaneçam
estudando, pelo menos, até a conclusão do Ensino Básico, são necessárias
medidas concebidas pelas próprias escolas, de modo a estimular e
acompanhar decisões drásticas ou inconsequentes de seus alunos com
relação à educação.
Essas ações devem ser aplicadas durante o ano todo e, muitas vezes, um
acompanhamento individual de cada caso se faz necessário por parte da
equipe pedagógica. Veja aqui algumas dicas para diminuir a evasão
escolar:
Acompanhamento da frequência escolar do aluno
Além de ser uma medida necessária para a organização estrutural e
pedagógica da escola, é também uma estatística para que o gestor tenha
elementos que permitam uma análise com maior precisão no desenvolvimento
do processo de ensino e aprendizagem de seus alunos, elaborando
estratégias pedagógicas direcionadas a eles. O uso de um bom software de
gestão escolar permite o acompanhamento com relatórios e gráficos, que
permitem o gestor tomar decisões mais rápidas e assertivas.
Campanhas de incentivo à assiduidade
Cartazes, mensagens de incentivo à assiduidade: a gestão escolar pode
colar cartazes, enviar e-mails ou mensagens através de redes sociais de
incentivo aos alunos para pararem de faltar. No entanto, essas mensagens
devem preferencialmente ser de teor bastante cuidadoso, algo como
“sentimos sua falta nas aulas”, demonstrando acolhimento e cuidado,
fazendo com que o aluno ausente se sinta valorizado e amparado pela
escola.
LEIA MAIS EM: A importância da aproximação com os pais no processo de
aprendizado do aluno
Falar com interlocutores
Contatar interlocutores próximos: o aluno que anda faltando normalmente
possui colegas mais próximos que podem lhe transmitir a preocupação da
escola de forma mais pessoal. Esse é um jeito humano e cuidadoso de
transmitir um primeiro alerta.
Diminuir a evasão escolar com a prevenção
A equipe gestora pode orientar a comunidade que atende, com cartazes,
visitas às famílias dos alunos, e-mails ou mensagens através de redes
sociais, tentando educá-la a combater a evasão escolar.
É possível reproduzir histórias de abandono escolar que tenham sido
revertidas, contando um final feliz que motive os alunos a continuar. O
importante é encontrar uma maneira de chegar até as famílias e mostrar a
elas que a escola se preocupa com os seus alunos.
Falar com a família
Tratar diretamente com o aluno e sua família: quando não tem mais jeito,
ou o aluno volta hoje para escola ou já está praticamente reprovado por
faltas, é preciso que a equipe tente uma última cartada e fale
pessoalmente com ele e sua família sobre a situação e suas consequências
para o futuro.
Nesse sentido, vale uma avaliação de cada caso e não generalizações. Uma
conversa pessoal revelará os motivos reais das ausências do aluno e as
medidas cabíveis e possíveis que a escola poderá tomar e auxiliar o
estudante.
Dentre as principais razões pelas quais as crianças abandonavam a escola
nas décadas anteriores, podemos destacar:
1ª) para ajudar no trabalho doméstico – nesse caso, essa tarefa ficava
mais com as crianças do sexo feminino, muito por conta da ideia de que a
menina deveria saber preparar alimentos e cuidar dos irmãos mais novos.
2ª) para ajudar os pais na lida com o trabalho na roça – esse trabalho
era realizado por meninos e meninas. Naquele época, o trabalho na roça
era bem mais manual e requisitava muita mão-de-obra de toda a família.
3ª) ignorância dos pais com relação à educação – nesse caso, a
ignorância era representada pelo fato de não saber o quanto a educação
poderia transformar a vida dos filhos. Desse modo, mesmo que os filhos
quisessem estudar, muitos pais não deixavam eles irem até a escola.
Desigualdade racial na
educação brasileira: um Guia completo
para entender e combater essa realidade
Reunimos os principais conteúdos do Observatório de Educação sobre o
tema para explicar o que é essa desigualdade e a importância da educação
para combatê-la.
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Introdução
De caráter estrutural e sistêmico, a desigualdade entre brancos e negros na sociedade brasileira é inquestionável e persiste com a fragilidade de políticas públicas para o seu enfrentamento. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por exemplo, os negros representam 75,2% do grupo formado pelos 10% mais pobres do país.
Se realmente queremos construir uma sociedade igualitária, é necessário compreender qual o papel que cada estrutura socioeconômica desempenha na reprodução do racismo, a fim de desenhar estratégias eficazes para o seu enfrentamento. Nesse cenário, o combate à desigualdade racial na educação é essencial, enquanto elemento indispensável para qualquer mudança, de modo que sem uma educação efetivamente antirracista não é possível pensar em uma sociedade igualitária.
Ao longo deste especial, compilamos uma série de informações, dados e análises aqui do Observatório de Educação – Ensino Médio e Gestão para você compreender um pouco mais sobre a desigualdade racial na educação brasileira e porque ela existe e permanece. Além disso, também abordamos políticas públicas e iniciativas diversas de gestores de escolas adotadas para enfrentar o problema , de modo a ilustrar como possível trabalhar para reduzi-la.
Para ter acesso a mais conteúdos sobre o tema, distribuímos vários links ao longo do texto, direcionando para diversos materiais selecionados, disponibilizados e organizados aqui no Observatório de Educação. Utilize-os para explorar conteúdos mais aprofundados disponíveis na nossa plataforma sobre questões específicas relacionadas à desigualdade racial na educação.
O que é a desigualdade racial na educação brasileira?
Na sociedade brasileira as diferenças sociais entre brancos e negros são nítidas no cotidiano. Além do aspecto econômico, no qual pessoas pretas e pardas (a combinação desses grupos forma a classificação negra, segundo o IBGE) são maioria entre as que possuem rendimentos mais baixos, a persistência de situações de maior vulnerabilidade, indicada por evidências nos campos da educação, saúde, moradia, entre outros, mostram evidente desequilíbrio na garantia de direitos em prejuízo para a população negra. É possível também observar a sub-representação entre líderes de equipes nas empresas, juízes e políticos.
Nessa perspectiva, o professor da University of Texas, Marcelo Paixão, esclarece como podemos definir a desigualdade racial e qual o papel dos dados para que os gestores possam elaborar políticas e práticas de combate às desigualdades raciais expressas também no espaço escolar ou na educação brasileira. https://www.youtube.com/embed/uUQy4bsg6xE
O que dizem os dados
De acordo com o estudo “Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil”, do IBGE, em 2018, a taxa de analfabetismo entre a população negra era de 9,1%, cerca de cinco pontos percentuais superior à da população branca, de 3,9%. Conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), também do IBGE, o percentual de jovens negros fora da escola chega a 19%, enquanto a de jovens brancos é de 12,5%. Gráfico representando os jovens fora da escola. Fonte: IBGE
Nos últimos anos foi, observada queda do abandono no Ensino Médio tanto entre estudantes brancos quanto negros. Apesar de positiva, a informação precisa ser complementada com a observação de que a distância nos últimos anos pouco se alterou (permanece estável entre 2,5 e 3 pontos percentuais), mantendo a desigualdade. Além disso, o último dado, de 2018, mostra que a queda segue entre os estudantes brancos, ao contrário do índice entre os alunos negros (subiu de 7,7% em 2017 para 7,8% em 2018), com possibilidade de agravamento diante da pandemia do Coronavírus, conforme conteúdo da seção Em Debate que abordou o assunto Gráfico representando a trajetória histórica do abandono. Fontes: Censo Escolar – Microdados da situação de final de ano letivo, (INEP)
Outros dados sobre a desigualdade racial na Educação e também o depoimento do professor Marcelo Paixão estão disponíveis na seção Educação em Números, do Observatório da Educação, que você pode acessar por meio deste link . O roteiro disponível, com perguntas orientadoras, auxilia a análise, que pode explorar recortes como idade, faixa de renda, ano, entre outros.
Além de uma análise profunda dos dados atuais, conhecer os aspectos históricos do Brasil é fundamental para compreender a origem e os motivos da perpetuação da desigualdade racial na educação do nosso país.
Aspectos históricos do racismo no Brasil
Última nação do ocidente a abolir a escravatura, o Brasil, entre o fim do século XIX e início do XX, não criou nenhuma condição para a inserção digna da população negra na sociedade. Ao contrário, diversas obras, políticas e instituições disseminaram a ideia de um país mestiço, no qual o convívio é harmonioso entre as diferentes raças.
Dessa maneira, o racismo estrutural foi sendo construído como processo histórico, que, segundo Pires e Silva, hoje funciona como:
“uma espécie de sistema de convergência de interesses, fazendo com que o racismo, de um lado, implique a subalternização e destituição material e simbólica dos bens sociais que geram respeito e estima social aos negros – ciclo de desvantagens – e, de outro, coloque os brancos imersos em um sistema de privilégios assumido como natural, como norma.” (PIRES e SILVA, p. 66)
Assim, o conjunto de preconceitos direcionados à população negra encontra-se enraizado no inconsciente e na subjetividade de indivíduos e instituições, se expressando em ações e atitudes discriminatórias regulares, mensuráveis e observáveis. Violência policial atingido na grande maioria das vezes a população negra, maior número de mortes proporcionalmente aos doentes na atual crise da Covid-19 e todos os dados de desigualdade na educação já mencionados são alguns exemplos.
Ao mesmo tempo, muitos avanços foram conquistados ao longo das últimas décadas a partir da luta histórica dos movimentos negros, que muitas vezes não é visibilizada devido ao mesmo racismo que ousa enfrentar. A professora Nilma Lino Gomes, em recente seminário on-line promovido pela Fundação Santillana , apontou:
“Fica parecendo que no Brasil tudo acontece sem conflito, mas nós somos uma sociedade em ebulição. Isso tem sido mostrado nos últimos tempos, mesmo que se inspirando contraditoriamente na realidade estado-unidense.”
Conforme apontou o antropólogo, professor da Universidade de São Paulo (USP), Kabengele Munanga, parte da mudança está na desconstrução do mito da superioridade branca e da inferioridade negra e ameríndia que atravessa todos os campos da educação, informação e imagem, reproduzidas cotidianamente e interiorizadas por toda a sociedade. De acordo com o antropólogo, é na educação principalmente que se constroem essas imagens estereotipadas e discriminatórias do sujeito e da população negra, de modo que apenas a prática educativa tem o poder de desconstruí-las: “Só a própria educação é capaz de desconstruir os monstros que criou e construir novos indivíduos que valorizem e convivam com as diferenças.” https://www.youtube.com/embed/tbdiR4AOmVE
O impacto do racismo no acesso à escola
Hoje em dia, as escolas possuem marcas dessa história e os indicadores educacionais são reflexo de uma situação muito comum para os jovens negros: a de precisar buscar inserção no mercado de trabalho muito cedo, como forma de colaborar para a subsistência do grupo familiar.
Conforme a educadora e gestora da educação Macaé Evaristo, esse conflito entre o trabalho e a escola e, por consequência, a evasão escolar, é uma das marcas da desigualdade racial no Brasil:
“Os jovens ainda vivem muito um conflito entre educação e trabalho em que as condições de vida impõem a opção pelo trabalho. Precisamos investir em melhores condições de atendimento a essa população”, explica. Além disso, essa população é maioria nas escolas com menor estrutura, o que favorece a evasão e o baixo desempenho na aprendizagem. “Os jovens das comunidades mais vulneráveis têm acesso a escolas com infraestrutura mais precária, que no geral têm profissionais de educação sem a formação desejada nas áreas do currículo demandadas para o Ensino Médio”, conclui Macaé Evaristo.
Para a intelectual negra Sueli Carneiro, fundadora do Geledés – Instituto da Mulher Negra, o racismo estrutural presente nas escolas gera situações traumatizantes para os estudantes negros.
“O pós-abolição não restitui essa humanidade retirada – a escola reitera isso. Não é gratuito que nossas primeiras experiências com o racismo têm a ver com a entrada na escola”, afirma.
Leia o artigo completo da seção Em Debate do Observatório da Educação através deste link para saber mais sobre as reflexões de Macaé Evaristo e Sueli Carneiro na construção de projetos e práticas educativas que combatam a desigualdade racial na educação
Diante de tudo isso, o abandono e o baixo desempenho na educação básica seguem muito mais altos para os estudantes negros, uma situação que ainda carece de políticas públicas efetivas, mas que vinha apresentando avanços, principais no âmbito legal, como a Lei 10639 de 2003.
A Lei 10639: História e cultura africanas na sala de aula
Além dos pontos já abordados, a própria construção curricular das escolas favorece a manutenção da desigualdade. Ao longo da construção do sistema educacional brasileiro, a seleção e estruturação dos conteúdos escolares foi organizada por uma perspectiva eurocentrada, na qual a visão da população branca foi priorizada em detrimento das outras etnias e culturas. Assim, os negros, mais da metade da nossa população, não se veem representados nos conteúdos lecionados.
“Quando uma cultura se impõe sobre a outra – como aconteceu no Brasil – é ela que fala. Há, portanto um lugar de poder. Você forma crianças (brancas, negras, indígenas) para pensar o branco, o negro e o indígena de uma determinada forma. Você cria um imaginário, criado em crianças brancas, negras e indígenas que irão ocupar diferentes lugares sociais. A hierarquização irá acontecer, e ao final você tem violência e conflitos raciais. A escola tem um lugar determinante na construção do imaginário” explica a pesquisadora Cida Bento, do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdade.
Nessa perspectiva, a Lei 10639, de 2003, foi uma conquista importantíssima para adotar perspectivas mais democráticas e diversas. Construída a partir de inúmeras manifestações dos movimentos negros, a lei estabeleceu a obrigatoriedade de conteúdos sobre a história e cultura africana e afrobrasileira nos currículos da Educação Básica
Porém, a simples abordagem de conteúdos não é suficiente. Sem uma avaliação que coloque a representatividade, o racismo, a diversidade e outros temas em debates alinhados com sujeitos historicamente excluídos, não colocaremos a discussão das relações étnicorraciais no centro do processo de construção curricular. Sem esse tipo de debate e inclusão, a escola pode seguir sendo apenas mais um espaço de reprodução de desigualdade racial na educação e instigar inclusive situações e discussões violentas entre diferentes grupos raciais.
Acesse o artigo completo “Currículo, desigualdades e diversidades no Ensino Médio” da seção Em Debate através deste link e saiba mais sobre as discussões para a inclusão de grupos historicamente excluídos no centro da construção curricular.
O papel da gestão escolar no combate à desigualdade racial
Conforme abordado neste artigo da seção Em Debate do Observatório de Educação, a educação antirracista é um conjunto de ações que não se limitam a resolver os conflitos cotidianos motivados por questões raciais. Assim, construir essa educação implica necessariamente a revisão do currículo, garantindo sua pluriversalidade, bem como a composição de um corpo docente etnicamente diverso e formado em competências curriculares que abranjam a cultura e a história de povos africanos e ameríndios.
Nessa perspectiva, o gestor tem papel fundamental para desenvolver meios que possibilitem a construção dessa representatividade e a redução do preconceito de forma mais ampla, estabelecendo uma educação antirracista mais efetiva do que a simples inserção de conteúdos nos currículos. Na Escola de Ensino Fundamental Godofredo Acrisio Ericeira, no município de Bacabal, no Maranhão, foi realizado um trabalho combinando esses conteúdos curriculares com o resgate dos saberes escondidos na memória dos mais velhos, construindo conhecimentos valorizando a característica quilombola da comunidade onde a escola está inserida. Confira o depoimento da gestora Clarice Morais Araújo sobre a iniciativa. https://www.youtube.com/embed/SCiKDnOE-1Y
Você pode conferir esse e outros conteúdos sobre o papel da gestão escolar para o combate à desigualdade racial através deste link, na Coleção do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades.
O papel do docente e o acesso ao Ensino Superior
Apesar do avanço no debate do racismo e da valorização da diversidade cultural proporcionado pela Lei 10639, ela ainda encontra algumas barreiras, sobretudo na rede pública. Além da falta de livros didáticos adequados aos temas, problemas na formação de professores contribuem com as dificuldades já enfrentadas.
Em muitos casos, a formação curricular das universidades também possui uma perspectiva eurocentrada, visto que a construção dela tem como base pesquisadores brancos, já que a presença de outras etnias foi muito pequena no meio acadêmico durante vários anos. A partir de ações afirmativas, como as cotas para ingressos de negros, indígenas e pessoas de baixa renda nesses espaços, esse cenário apresentou uma melhora.
Fundamentais para proporcionar acesso ao Ensino Superior a esses grupos, as cotas foram instituídas nacionalmente nas universidades públicas em 2012, com a Lei 12711. Além de buscar tornar o acesso ao ambiente acadêmico mais equânime, a presença de negros e indígenas é fundamental para promover a valorização da diversidade cultural e construir conhecimentos que colaborem com a aplicação da Lei 10639, ajudando a promover uma educação antirracista nas escolas do Brasil.
O ex-ministro da Educação, Aloizio Mercadante, explica o longo processo de negociação política para a efetivação da Lei 12711 e os impactos dela no desempenho e na construção do conhecimento das universidades. https://www.youtube.com/embed/7ylV3FiS-XA?start=1476
Esse vídeo faz parte da nossa série especial de vídeos com ex-ministros da Educação. Você pode conferir todos na seção Luz, Câmera, Gestão do Observatório da Educação através deste link . As cotas e a ampliação do acesso ao Ensino Superior também são abordadas na entrevista do ex-ministro Fernando Haddad, que você confere clicando aqui e também na entrevista com o ex-ministro Tarso Genro, disponível aqui.
Preparação docente para uma educação antirracista
Naturalmente, o impacto dessa democratização de acesso ao Ensino Superior terá impactos na educação básica no longo prazo, sobretudo com a inclusão de mais professores negros. De acordo com um estudo de 2016 da Universidade John Hopkins, professores brancos possuem menos expectativas positivas quanto ao futuro profissional e acadêmico de alunos negros, o que favorece o desenvolvimento de situações de conflitos ligados a discriminação racial. Concretiza-se, assim, uma profecia autorealizadora, na qual os alunos que os educadores acreditam que não aprenderão, ou aprenderão pouco, no final da trajetória efetivamente não obtêm o sucesso acadêmico diante do apoio que foi sonegado. Diferença de expectativas entre professores brancos e negros com o futuro de estudantes negros.
Fonte: Universidade John Hopkins
Enquanto isso, é fundamental que os gestores das escolas desenvolvam ações de preparação dos professores para explorar os temas previstos na Lei 10639, promover debates relacionados à diversidade cultural e saber como identificar e minimizar a ocorrência de situações de racismo.
Na EEB Ildefonso Linhares, em Florianópolis (SC), o diretor Sérgio Bertoldi desenvolveu ações de combate ao preconceito racial que tornava o ambiente escolar repleto de conflitos. Começando pela preparação dos professores, o projeto evoluiu para ações em parceria com a comunidade, unindo alunos, educadores e famílias para fomentar a importância da população negra na construção do País, em especial nas artes e na cultura brasileiras. https://www.youtube.com/embed/ZtiIjHp1L-g
Clique aqui para ler a 30ª edição do boletim Aprendizagem em Foco, que aborda a pesquisa da Universidade John Hopkins e o projeto da EEB Ildefonso Linhares, além de outros conteúdos relevantes sobre o papel da gestão escolar para o combate ao racismo.
Soluções de gestão para o combate à desigualdade racial na educação
Como você pode notar, a desigualdade racial na educação brasileira é complexa e com muitos desafios para ser combatida. Entretanto, muitos profissionais da educação vêm buscando e implementando diferentes estratégias que buscam valorizar a diversidade e combater o racismo.
Por isso, separamos mais algumas iniciativas que já estão fazendo a diferença para o combate à desigualdade racial, que podem servir de inspiração a gestores que estão começando a pensar meios de inserir suas escolas nessa luta e também a todos que queiram fomentar esse debate em seus espaços de fala. Confira!
1. Diálogo e valorização da cultura negra
A EMEF Oziel Alves Pereira, de Campinas, no estado de São Paulo, os conflitos gerados pelas diferenças raciais foram reduzidos institucionalizando diálogos sobre africanidades e valorização da identidade através de oficinas de tererê, que valorizam a beleza do cabelo de alunos e alunas negras. https://www.youtube.com/embed/1DgTX1nQka8
2. Oficinas e exposições extraclasse para o combate ao preconceito
Na EEB Cel Antonio Lehmkuhl, o bullying motivado pelas diferenças entre os alunos foi combatido através de oficinas extraclasse e exposições de trabalhos construídos através de filmes, músicas e leituras orientadas, possibilitando uma construção diferenciada da ideia de preconceito e reduzindo conflitos. https://www.youtube.com/embed/fnwQloFD1iI
3. Participação estudantil como ferramenta de motivação
A EEEP Emmanuel Oliveira de Arruda Coelho, no município de Granja, no Ceará, enfrentava uma situação de desmotivação e dificuldades de aprendizagem de vários estudantes, comum entre alunos negros e que vivem em condições socioeconômicas difíceis. Assim, foram desenvolvidas técnicas de gestão que incluíssem os educandos no processo de construção do ambiente escolar, levantando ideias de projetos, desenvolvendo lideranças e valorizando o diálogo deles com a direção da escola. https://www.youtube.com/embed/4zALKpENAX8
4. Representações negras na literatura e nos desenhos animados
Os livros infantis e os desenhos animados atuam na formação da identidade e do aprendizado das crianças. Nessa perspectiva, a série de livros “Nana e Nilo” tem como protagonistas duas crianças negras que viajam o Brasil e a África explorando vários temas educativos. Disponível também em animações presentes em várias plataformas, Nana e Nilo colaboram para a auto-estima das crianças negras, bem como o orgulho de sua beleza, história e identidade. Confira a entrevista com seu criador, Renato Noguera. https://www.youtube.com/embed/tW8N-yq-boE
Acesse o Banco de Soluções do Observatório de Educação para conhecer outras iniciativas de gestores e professores para solucionar desafios do cotidiano escolar, entre eles o combate ao preconceito e ao racismo e a valorização da diversidade cultural.
Quer saber mais? Navegue pelos links distribuídos ao longo desta página e explore outros conteúdos do Observatório da Educação.
Recapitulando
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Dicas e estratégias para diminuir a evasão escolar
A evasão escolar tem uma ligação mais forte com a desmotivação do aluno do que a necessidade de conciliar trabalho com estudo. As estratégias para diminuição da evasão escolar devem ser pauta corrente dentro da escola.
Ao contrário do que comumente se é avaliado, a maioria daqueles que desistem da escola não o fazem por conta do trabalho, mas porque não se sente motivados pela própria escola.
Segundo pesquisa da Fundação Getúlio Vargas em 2009, cerca de 40% dos alunos que abandonam o Ensino Médio o fazem por falta de interesse, enquanto 27% o fazem pela impossibilidade de conciliar estudos e trabalho.
Para combater esse quadro e fazer com que os alunos permaneçam estudando, pelo menos, até a conclusão do Ensino Básico, são necessárias medidas concebidas pelas próprias escolas, de modo a estimular e acompanhar decisões drásticas ou inconsequentes de seus alunos com relação à educação.
Essas ações devem ser aplicadas durante o ano todo e, muitas vezes, um acompanhamento individual de cada caso se faz necessário por parte da equipe pedagógica. Veja aqui algumas dicas para diminuir a evasão escolar:
Acompanhamento da frequência escolar do aluno
Além de ser uma medida necessária para a organização estrutural e pedagógica da escola, é também uma estatística para que o gestor tenha elementos que permitam uma análise com maior precisão no desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem de seus alunos, elaborando estratégias pedagógicas direcionadas a eles. O uso de um bom software de gestão escolar permite o acompanhamento com relatórios e gráficos, que permitem o gestor tomar decisões mais rápidas e assertivas.
Campanhas de incentivo à assiduidade
Cartazes, mensagens de incentivo à assiduidade: a gestão escolar pode colar cartazes, enviar e-mails ou mensagens através de redes sociais de incentivo aos alunos para pararem de faltar. No entanto, essas mensagens devem preferencialmente ser de teor bastante cuidadoso, algo como “sentimos sua falta nas aulas”, demonstrando acolhimento e cuidado, fazendo com que o aluno ausente se sinta valorizado e amparado pela escola.LEIA MAIS EM: A importância da aproximação com os pais no processo de aprendizado do aluno
Falar com interlocutores
Contatar interlocutores próximos: o aluno que anda faltando normalmente possui colegas mais próximos que podem lhe transmitir a preocupação da escola de forma mais pessoal. Esse é um jeito humano e cuidadoso de transmitir um primeiro alerta.
Diminuir a evasão escolar com a prevenção
A equipe gestora pode orientar a comunidade que atende, com cartazes, visitas às famílias dos alunos, e-mails ou mensagens através de redes sociais, tentando educá-la a combater a evasão escolar.
É possível reproduzir histórias de abandono escolar que tenham sido revertidas, contando um final feliz que motive os alunos a continuar. O importante é encontrar uma maneira de chegar até as famílias e mostrar a elas que a escola se preocupa com os seus alunos.
Falar com a família
Tratar diretamente com o aluno e sua família: quando não tem mais jeito, ou o aluno volta hoje para escola ou já está praticamente reprovado por faltas, é preciso que a equipe tente uma última cartada e fale pessoalmente com ele e sua família sobre a situação e suas consequências para o futuro.
Nesse sentido, vale uma avaliação de cada caso e não generalizações. Uma conversa pessoal revelará os motivos reais das ausências do aluno e as medidas cabíveis e possíveis que a escola poderá tomar e auxiliar o estudante.
As principais causas da evasão escolar e como evitar
A evasão escolar acontece quando o aluno deixa de frequentar as aulas, caracterizando desta forma o abandono da escola durante o ano letivo. Existem muitos desafios para as instituições de ensino no Brasil e a evasão escolar é um dos principais deles.
As causas da evasão escolar são variadas, podemos citar algumas como as condições socioeconômicas, culturais, geográficas e também questões referentes ao plano didático e pedagógico e a baixa qualidade de ensino.
Motivos para a evasão escolar
Existem diversos motivos que contribuem para a evasão escolar, sendo que a ocorrência da evasão frequentemente está presente nos anos iniciais do ensino fundamental até o ensino médio.
Os principais motivos que contribuem para a evasão escolar são: escola distante de casa, falta de transporte escolar, não ter um adulto que leve o aluno até a escola, falta de interesse, qualidade do ensino, doenças, dificuldade do aluno, ajudar os pais em casa ou no trabalho, necessidade de trabalhar, falta de interesse e proibição dos pais de ir à escola… É importante salientar que, o ensino fundamental é obrigatório para as crianças e adolescentes de 6 a 14 anos, sendo responsabilidade das famílias e do Estado garantir à eles o acesso a educação.
Consequências do abandono escolar
Os estudantes que abandonam a escola costumam ter baixa estima, o que acaba por dificultar as suas relações sociais e profissionais. Entrar no mercado de trabalho se torna mais difícil e a qualidade dos serviços prestados é nivelada por baixo, tendo em contrapartida uma remuneração mais baixa.
Isso acaba por gerar um sentimento de desmotivação, consolidando ainda mais a desigualdade no Brasil.
As soluções para combater a evasão escolar
É preciso que os gestores, coordenadores e professores se reúnam e avaliem os alunos, tentando desta forma detectar se há dentro do corpo discente estudantes propensos a essa situação. Esse é um dever da escola.LEIA MAIS EM: Dicas e estratégias para diminuir a evasão escolar
Um bom sistema de gestão escolar permite que relatórios de acompanhamento e dados comparativos de desempenho entre alunos e turmas, faltas e outras informações, ajuda a identificar de forma fácil e objetiva indicativos de que o aluno tem a propensão à evasão escolar, permitindo mais efetividade na ação de combate.
Detectar o problema é o primeiro passo para buscar formas de resolvê-lo. A verdade é que todos precisam de incentivo, e não só, mas deve ser dada atenção maior aos que já apresentam as características que levam à evasão escolar.
Detectado o problema, é preciso avaliar a forma de agir: recorrer à família para buscar uma solução conjunta, por exemplo, afinal, nem sempre a ausência dos filhos na escola é conhecida pelos pais.
Num segundo momento, quando os esforços da escola com a família não são suficientes, é hora do Conselho Tutelar ou o Ministério Público serem acionados.
Desigualdade racial na
educação brasileira: um Guia completo
para entender e combater essa realidade
Reunimos os principais conteúdos do Observatório de Educação sobre o tema para explicar o que é essa desigualdade e a importância da educação para combatê-la. 25 MIN LEITURAIMPRIMIR
Introdução
De caráter estrutural e sistêmico, a desigualdade entre brancos e negros na sociedade brasileira é inquestionável e persiste com a fragilidade de políticas públicas para o seu enfrentamento. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por exemplo, os negros representam 75,2% do grupo formado pelos 10% mais pobres do país.
Se realmente queremos construir uma sociedade igualitária, é necessário compreender qual o papel que cada estrutura socioeconômica desempenha na reprodução do racismo, a fim de desenhar estratégias eficazes para o seu enfrentamento. Nesse cenário, o combate à desigualdade racial na educação é essencial, enquanto elemento indispensável para qualquer mudança, de modo que sem uma educação efetivamente antirracista não é possível pensar em uma sociedade igualitária.
Ao longo deste especial, compilamos uma série de informações, dados e análises aqui do Observatório de Educação – Ensino Médio e Gestão para você compreender um pouco mais sobre a desigualdade racial na educação brasileira e porque ela existe e permanece. Além disso, também abordamos políticas públicas e iniciativas diversas de gestores de escolas adotadas para enfrentar o problema , de modo a ilustrar como possível trabalhar para reduzi-la.
Para ter acesso a mais conteúdos sobre o tema, distribuímos vários links ao longo do texto, direcionando para diversos materiais selecionados, disponibilizados e organizados aqui no Observatório de Educação. Utilize-os para explorar conteúdos mais aprofundados disponíveis na nossa plataforma sobre questões específicas relacionadas à desigualdade racial na educação.
O que é a desigualdade racial na educação brasileira?
Na sociedade brasileira as diferenças sociais entre brancos e negros são nítidas no cotidiano. Além do aspecto econômico, no qual pessoas pretas e pardas (a combinação desses grupos forma a classificação negra, segundo o IBGE) são maioria entre as que possuem rendimentos mais baixos, a persistência de situações de maior vulnerabilidade, indicada por evidências nos campos da educação, saúde, moradia, entre outros, mostram evidente desequilíbrio na garantia de direitos em prejuízo para a população negra. É possível também observar a sub-representação entre líderes de equipes nas empresas, juízes e políticos.
Nessa perspectiva, o professor da University of Texas, Marcelo Paixão, esclarece como podemos definir a desigualdade racial e qual o papel dos dados para que os gestores possam elaborar políticas e práticas de combate às desigualdades raciais expressas também no espaço escolar ou na educação brasileira. https://www.youtube.com/embed/uUQy4bsg6xE
O que dizem os dados
De acordo com o estudo “Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil”, do IBGE, em 2018, a taxa de analfabetismo entre a população negra era de 9,1%, cerca de cinco pontos percentuais superior à da população branca, de 3,9%. Conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), também do IBGE, o percentual de jovens negros fora da escola chega a 19%, enquanto a de jovens brancos é de 12,5%. Gráfico representando os jovens fora da escola. Fonte: IBGE
Nos últimos anos foi, observada queda do abandono no Ensino Médio tanto entre estudantes brancos quanto negros. Apesar de positiva, a informação precisa ser complementada com a observação de que a distância nos últimos anos pouco se alterou (permanece estável entre 2,5 e 3 pontos percentuais), mantendo a desigualdade. Além disso, o último dado, de 2018, mostra que a queda segue entre os estudantes brancos, ao contrário do índice entre os alunos negros (subiu de 7,7% em 2017 para 7,8% em 2018), com possibilidade de agravamento diante da pandemia do Coronavírus, conforme conteúdo da seção Em Debate que abordou o assunto Gráfico representando a trajetória histórica do abandono. Fontes: Censo Escolar – Microdados da situação de final de ano letivo, (INEP)
Outros dados sobre a desigualdade racial na Educação e também o depoimento do professor Marcelo Paixão estão disponíveis na seção Educação em Números, do Observatório da Educação, que você pode acessar por meio deste link . O roteiro disponível, com perguntas orientadoras, auxilia a análise, que pode explorar recortes como idade, faixa de renda, ano, entre outros.
Além de uma análise profunda dos dados atuais, conhecer os aspectos históricos do Brasil é fundamental para compreender a origem e os motivos da perpetuação da desigualdade racial na educação do nosso país.
Aspectos históricos do racismo no Brasil
Última nação do ocidente a abolir a escravatura, o Brasil, entre o fim do século XIX e início do XX, não criou nenhuma condição para a inserção digna da população negra na sociedade. Ao contrário, diversas obras, políticas e instituições disseminaram a ideia de um país mestiço, no qual o convívio é harmonioso entre as diferentes raças.
Dessa maneira, o racismo estrutural foi sendo construído como processo histórico, que, segundo Pires e Silva, hoje funciona como:
“uma espécie de sistema de convergência de interesses, fazendo com que o racismo, de um lado, implique a subalternização e destituição material e simbólica dos bens sociais que geram respeito e estima social aos negros – ciclo de desvantagens – e, de outro, coloque os brancos imersos em um sistema de privilégios assumido como natural, como norma.” (PIRES e SILVA, p. 66)
Assim, o conjunto de preconceitos direcionados à população negra encontra-se enraizado no inconsciente e na subjetividade de indivíduos e instituições, se expressando em ações e atitudes discriminatórias regulares, mensuráveis e observáveis. Violência policial atingido na grande maioria das vezes a população negra, maior número de mortes proporcionalmente aos doentes na atual crise da Covid-19 e todos os dados de desigualdade na educação já mencionados são alguns exemplos.
Ao mesmo tempo, muitos avanços foram conquistados ao longo das últimas décadas a partir da luta histórica dos movimentos negros, que muitas vezes não é visibilizada devido ao mesmo racismo que ousa enfrentar. A professora Nilma Lino Gomes, em recente seminário on-line promovido pela Fundação Santillana , apontou:
“Fica parecendo que no Brasil tudo acontece sem conflito, mas nós somos uma sociedade em ebulição. Isso tem sido mostrado nos últimos tempos, mesmo que se inspirando contraditoriamente na realidade estado-unidense.”
Conforme apontou o antropólogo, professor da Universidade de São Paulo (USP), Kabengele Munanga, parte da mudança está na desconstrução do mito da superioridade branca e da inferioridade negra e ameríndia que atravessa todos os campos da educação, informação e imagem, reproduzidas cotidianamente e interiorizadas por toda a sociedade. De acordo com o antropólogo, é na educação principalmente que se constroem essas imagens estereotipadas e discriminatórias do sujeito e da população negra, de modo que apenas a prática educativa tem o poder de desconstruí-las: “Só a própria educação é capaz de desconstruir os monstros que criou e construir novos indivíduos que valorizem e convivam com as diferenças.” https://www.youtube.com/embed/tbdiR4AOmVE
O impacto do racismo no acesso à escola
Hoje em dia, as escolas possuem marcas dessa história e os indicadores educacionais são reflexo de uma situação muito comum para os jovens negros: a de precisar buscar inserção no mercado de trabalho muito cedo, como forma de colaborar para a subsistência do grupo familiar.
Conforme a educadora e gestora da educação Macaé Evaristo, esse conflito entre o trabalho e a escola e, por consequência, a evasão escolar, é uma das marcas da desigualdade racial no Brasil:
“Os jovens ainda vivem muito um conflito entre educação e trabalho em que as condições de vida impõem a opção pelo trabalho. Precisamos investir em melhores condições de atendimento a essa população”, explica. Além disso, essa população é maioria nas escolas com menor estrutura, o que favorece a evasão e o baixo desempenho na aprendizagem. “Os jovens das comunidades mais vulneráveis têm acesso a escolas com infraestrutura mais precária, que no geral têm profissionais de educação sem a formação desejada nas áreas do currículo demandadas para o Ensino Médio”, conclui Macaé Evaristo.
Para a intelectual negra Sueli Carneiro, fundadora do Geledés – Instituto da Mulher Negra, o racismo estrutural presente nas escolas gera situações traumatizantes para os estudantes negros.
“O pós-abolição não restitui essa humanidade retirada – a escola reitera isso. Não é gratuito que nossas primeiras experiências com o racismo têm a ver com a entrada na escola”, afirma.
Leia o artigo completo da seção Em Debate do Observatório da Educação através deste link para saber mais sobre as reflexões de Macaé Evaristo e Sueli Carneiro na construção de projetos e práticas educativas que combatam a desigualdade racial na educação
Diante de tudo isso, o abandono e o baixo desempenho na educação básica seguem muito mais altos para os estudantes negros, uma situação que ainda carece de políticas públicas efetivas, mas que vinha apresentando avanços, principais no âmbito legal, como a Lei 10639 de 2003.
A Lei 10639: História e cultura africanas na sala de aula
Além dos pontos já abordados, a própria construção curricular das escolas favorece a manutenção da desigualdade. Ao longo da construção do sistema educacional brasileiro, a seleção e estruturação dos conteúdos escolares foi organizada por uma perspectiva eurocentrada, na qual a visão da população branca foi priorizada em detrimento das outras etnias e culturas. Assim, os negros, mais da metade da nossa população, não se veem representados nos conteúdos lecionados.
“Quando uma cultura se impõe sobre a outra – como aconteceu no Brasil – é ela que fala. Há, portanto um lugar de poder. Você forma crianças (brancas, negras, indígenas) para pensar o branco, o negro e o indígena de uma determinada forma. Você cria um imaginário, criado em crianças brancas, negras e indígenas que irão ocupar diferentes lugares sociais. A hierarquização irá acontecer, e ao final você tem violência e conflitos raciais. A escola tem um lugar determinante na construção do imaginário” explica a pesquisadora Cida Bento, do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdade.
Nessa perspectiva, a Lei 10639, de 2003, foi uma conquista importantíssima para adotar perspectivas mais democráticas e diversas. Construída a partir de inúmeras manifestações dos movimentos negros, a lei estabeleceu a obrigatoriedade de conteúdos sobre a história e cultura africana e afrobrasileira nos currículos da Educação Básica
Porém, a simples abordagem de conteúdos não é suficiente. Sem uma avaliação que coloque a representatividade, o racismo, a diversidade e outros temas em debates alinhados com sujeitos historicamente excluídos, não colocaremos a discussão das relações étnicorraciais no centro do processo de construção curricular. Sem esse tipo de debate e inclusão, a escola pode seguir sendo apenas mais um espaço de reprodução de desigualdade racial na educação e instigar inclusive situações e discussões violentas entre diferentes grupos raciais.
Acesse o artigo completo “Currículo, desigualdades e diversidades no Ensino Médio” da seção Em Debate através deste link e saiba mais sobre as discussões para a inclusão de grupos historicamente excluídos no centro da construção curricular.
O papel da gestão escolar no combate à desigualdade racial
Conforme abordado neste artigo da seção Em Debate do Observatório de Educação, a educação antirracista é um conjunto de ações que não se limitam a resolver os conflitos cotidianos motivados por questões raciais. Assim, construir essa educação implica necessariamente a revisão do currículo, garantindo sua pluriversalidade, bem como a composição de um corpo docente etnicamente diverso e formado em competências curriculares que abranjam a cultura e a história de povos africanos e ameríndios.
Nessa perspectiva, o gestor tem papel fundamental para desenvolver meios que possibilitem a construção dessa representatividade e a redução do preconceito de forma mais ampla, estabelecendo uma educação antirracista mais efetiva do que a simples inserção de conteúdos nos currículos. Na Escola de Ensino Fundamental Godofredo Acrisio Ericeira, no município de Bacabal, no Maranhão, foi realizado um trabalho combinando esses conteúdos curriculares com o resgate dos saberes escondidos na memória dos mais velhos, construindo conhecimentos valorizando a característica quilombola da comunidade onde a escola está inserida. Confira o depoimento da gestora Clarice Morais Araújo sobre a iniciativa. https://www.youtube.com/embed/SCiKDnOE-1Y
Você pode conferir esse e outros conteúdos sobre o papel da gestão escolar para o combate à desigualdade racial através deste link, na Coleção do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades.
O papel do docente e o acesso ao Ensino Superior
Apesar do avanço no debate do racismo e da valorização da diversidade cultural proporcionado pela Lei 10639, ela ainda encontra algumas barreiras, sobretudo na rede pública. Além da falta de livros didáticos adequados aos temas, problemas na formação de professores contribuem com as dificuldades já enfrentadas.
Em muitos casos, a formação curricular das universidades também possui uma perspectiva eurocentrada, visto que a construção dela tem como base pesquisadores brancos, já que a presença de outras etnias foi muito pequena no meio acadêmico durante vários anos. A partir de ações afirmativas, como as cotas para ingressos de negros, indígenas e pessoas de baixa renda nesses espaços, esse cenário apresentou uma melhora.
Fundamentais para proporcionar acesso ao Ensino Superior a esses grupos, as cotas foram instituídas nacionalmente nas universidades públicas em 2012, com a Lei 12711. Além de buscar tornar o acesso ao ambiente acadêmico mais equânime, a presença de negros e indígenas é fundamental para promover a valorização da diversidade cultural e construir conhecimentos que colaborem com a aplicação da Lei 10639, ajudando a promover uma educação antirracista nas escolas do Brasil.
O ex-ministro da Educação, Aloizio Mercadante, explica o longo processo de negociação política para a efetivação da Lei 12711 e os impactos dela no desempenho e na construção do conhecimento das universidades. https://www.youtube.com/embed/7ylV3FiS-XA?start=1476
Esse vídeo faz parte da nossa série especial de vídeos com ex-ministros da Educação. Você pode conferir todos na seção Luz, Câmera, Gestão do Observatório da Educação através deste link . As cotas e a ampliação do acesso ao Ensino Superior também são abordadas na entrevista do ex-ministro Fernando Haddad, que você confere clicando aqui e também na entrevista com o ex-ministro Tarso Genro, disponível aqui.
Preparação docente para uma educação antirracista
Naturalmente, o impacto dessa democratização de acesso ao Ensino Superior terá impactos na educação básica no longo prazo, sobretudo com a inclusão de mais professores negros. De acordo com um estudo de 2016 da Universidade John Hopkins, professores brancos possuem menos expectativas positivas quanto ao futuro profissional e acadêmico de alunos negros, o que favorece o desenvolvimento de situações de conflitos ligados a discriminação racial. Concretiza-se, assim, uma profecia autorealizadora, na qual os alunos que os educadores acreditam que não aprenderão, ou aprenderão pouco, no final da trajetória efetivamente não obtêm o sucesso acadêmico diante do apoio que foi sonegado. Diferença de expectativas entre professores brancos e negros com o futuro de estudantes negros.
Fonte: Universidade John Hopkins
Enquanto isso, é fundamental que os gestores das escolas desenvolvam ações de preparação dos professores para explorar os temas previstos na Lei 10639, promover debates relacionados à diversidade cultural e saber como identificar e minimizar a ocorrência de situações de racismo.
Na EEB Ildefonso Linhares, em Florianópolis (SC), o diretor Sérgio Bertoldi desenvolveu ações de combate ao preconceito racial que tornava o ambiente escolar repleto de conflitos. Começando pela preparação dos professores, o projeto evoluiu para ações em parceria com a comunidade, unindo alunos, educadores e famílias para fomentar a importância da população negra na construção do País, em especial nas artes e na cultura brasileiras. https://www.youtube.com/embed/ZtiIjHp1L-g
Clique aqui para ler a 30ª edição do boletim Aprendizagem em Foco, que aborda a pesquisa da Universidade John Hopkins e o projeto da EEB Ildefonso Linhares, além de outros conteúdos relevantes sobre o papel da gestão escolar para o combate ao racismo.
Soluções de gestão para o combate à desigualdade racial na educação
Como você pode notar, a desigualdade racial na educação brasileira é complexa e com muitos desafios para ser combatida. Entretanto, muitos profissionais da educação vêm buscando e implementando diferentes estratégias que buscam valorizar a diversidade e combater o racismo.
Por isso, separamos mais algumas iniciativas que já estão fazendo a diferença para o combate à desigualdade racial, que podem servir de inspiração a gestores que estão começando a pensar meios de inserir suas escolas nessa luta e também a todos que queiram fomentar esse debate em seus espaços de fala. Confira!
1. Diálogo e valorização da cultura negra
A EMEF Oziel Alves Pereira, de Campinas, no estado de São Paulo, os conflitos gerados pelas diferenças raciais foram reduzidos institucionalizando diálogos sobre africanidades e valorização da identidade através de oficinas de tererê, que valorizam a beleza do cabelo de alunos e alunas negras. https://www.youtube.com/embed/1DgTX1nQka8
2. Oficinas e exposições extraclasse para o combate ao preconceito
Na EEB Cel Antonio Lehmkuhl, o bullying motivado pelas diferenças entre os alunos foi combatido através de oficinas extraclasse e exposições de trabalhos construídos através de filmes, músicas e leituras orientadas, possibilitando uma construção diferenciada da ideia de preconceito e reduzindo conflitos. https://www.youtube.com/embed/fnwQloFD1iI
3. Participação estudantil como ferramenta de motivação
A EEEP Emmanuel Oliveira de Arruda Coelho, no município de Granja, no Ceará, enfrentava uma situação de desmotivação e dificuldades de aprendizagem de vários estudantes, comum entre alunos negros e que vivem em condições socioeconômicas difíceis. Assim, foram desenvolvidas técnicas de gestão que incluíssem os educandos no processo de construção do ambiente escolar, levantando ideias de projetos, desenvolvendo lideranças e valorizando o diálogo deles com a direção da escola. https://www.youtube.com/embed/4zALKpENAX8
4. Representações negras na literatura e nos desenhos animados
Os livros infantis e os desenhos animados atuam na formação da identidade e do aprendizado das crianças. Nessa perspectiva, a série de livros “Nana e Nilo” tem como protagonistas duas crianças negras que viajam o Brasil e a África explorando vários temas educativos. Disponível também em animações presentes em várias plataformas, Nana e Nilo colaboram para a auto-estima das crianças negras, bem como o orgulho de sua beleza, história e identidade. Confira a entrevista com seu criador, Renato Noguera. https://www.youtube.com/embed/tW8N-yq-boE
Acesse o Banco de Soluções do Observatório de Educação para conhecer outras iniciativas de gestores e professores para solucionar desafios do cotidiano escolar, entre eles o combate ao preconceito e ao racismo e a valorização da diversidade cultural.
Quer saber mais? Navegue pelos links distribuídos ao longo desta página e explore outros conteúdos do Observatório da Educação.
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A discriminação racial e seus reflexos no processo de ensino e aprendizagem
Pedagogia
Esse trabalho descreve os vários tipos de racismo que surgiram desde o inicio da civilização,começando nos gregos indo para os romanos, continuando na idade média.